Oração no dia dos mortos
(Emmanuel)

Senhor Jesus!

Enquanto nossos irmãos na Terra se consagram hoje à lembrança dos mortos-vivos que se desenfaixaramda carne, oramos também pelos vivos-mortos que ainda se ajustam à teia física...

Pelos que jazem sepultados em palácios silenciosos, fugindo ao trabalho, como quem se cadaveriza, pouco a pouco, para o sepulcro;
pelos que se enrijeceram gradativamente na autoridade convencional, adornando a própria inutilidade com títulos preciosos, à feição de belos epitáfios inúteis;
pelos que anestesiaram a consciência no vício, transformando as alegrias desvairadas do mundo em portões escancarados para a longa descida às trevas;
pelos que enterraram a própria mente nos cofres da sovinice, enclausurando a existência numa cova de ouro;
pelos que paralisaram a circulação do próprio sangue, nos excessos da mesa; pelos que se mumificaram no féretro da preguiça, receando as cruzes redentoras e as calúnias
honrosas;
pelos que se imobilizaram no paraíso doméstico, enquistando-se no egoísmo entorpecente, como desmemoriados, descansando no espaço estreito do esquife...
E rogamos-te ainda, Senhor, pelos mortos das penitenciárias que ouviram as sugestões do crime e clamam agora na dor do arrependimento;
pelos mortos dos hospitais e dos manicômios, que gemem, relegados à solidão, na noite da enfermidade;
pelos mortos de desânimo, que se renderam, na luta, às punhaladas da ingratidão;
pelos mortos de desespero, que caíram em suicídio moral, por desertores da renúncia e da paciência;
pelos mortos de saudade, que lamentam a falta dos seres pelos quais dariam a própria vida;
e por esses outros mortos, desconhecidos e pequeninos, que são as crianças entregues à via pública, exterminadas na vala do esquecimento...
Por todos esses nossos irmãos, não ignoramos que choras também como choraste sobre Lázaro morto...
E trazendo igualmente hoje a cada um deles a flor da esperança e o lume da oração, sabemos que o teu amor infinito clarear-nos-á o vale da morte, ensinando-nos o caminho da eterna ressurreição.

Emmanuel
Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos. 14. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 77, p. 217-218.


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