Agir sem Cessar
(Passos Lírio)

“A inatividade não dá para trás nem para frente, não sai de onde está nem se movimenta em qualquer sentido, nada produz e a nada nos conduz.”

Enquanto a Natureza, em suas diversificadas manifestações, reveste-se de variação de aspectos, nós, em condição de Espíritos encarnados, não raro agimos de maneira contrária, apelando para as comodidades do lar, determinados ao descanso, após as pelejas travadas na arena do mundo.

Será que, por termos desempenhado certos encargos, estaremos desobrigados de dar continuidade a outros? Por que debruçarmo-nos sobre as conquistas já feitas, como se a nossa caminhada estivesse definitivamente encerrada, sem nada mais a fazer?

Quanto logramos realizar ontem, não nos dispensa, hoje e amanhã, de que nos ocupemos com outros serviços, compatíveis com as nossas aptidões e capacidades de execução.

Não demos tréguas às iniciativas de servir e ajudar, esclarecer e orientar, assistir e consolar, ouvir e encaminhar, de ver e direcionar. Não nos contentemos com realizações e empreendimentos consumados, quando, na realidade, há ainda muito e muito por fazer em prol da reconstrução do Mundo e da Humanidade.

Atentemos na atormentada fase de transição por que passa a Terra e seus habitantes, para concluirmos pela necessidade de estar a postos, como sentinelas indormidas, na guarita e guarda de nossa responsabilidade.

Espraiemos os olhos pelo cenário à nossa frente. Flagelos naturais e sociais. Dramas e tragédias. Provações e expiações. Penúrias materiais e morais. Gemidos e prantos. Lágrimas e soluços. Aflições e desesperos. Desilusões e desencantos. Dissabores e decepções. Desapontamentos e frustrações.

Como podemos preencher, a contento, a finalidade de nossa existência e destinação, se não nos empenhamos em mudar para melhor, a partir de nós mesmos, o acidentado curso dos flagelos que nos atormentam a vida?

Daí a imprescindível necessidade de mais trabalho para a aquisição de nossos progressos, aprendendo e ensinando, servindo e amando, amealhando e repartindo, angariando e cedendo.

Compromissos cumpridos não nos isentam de que nos coloquemos a serviço de outros, em nosso próprio benefício e no do próximo.

Corre-se o risco de se passar do estado neutro para o da displicência e desse para disposições de espírito negativas. Daí à queda e completa falência é questão apenas de um passo. E não nos convém, em hipótese nenhuma e sob pretexto algum, sair da fase ativa, dinâmica e produtiva.

Uma ave que tivesse as asas imobilizadas ou anestesiadas por algum tempo acabaria por perder a ação do vôo e merecer outra sorte bem diversa da que normalmente lhe está reservada.

Se nos desligarmos das idéias elevadas e dos sadios e santificados propósitos de dignificação espiritual, acabaremos por contrair um estado de entorpecimento e anestesia que nos imobilizará para as belas e sacrossantas conquistas da Espiritualidade.

A inatividade não dá para trás nem para frente, não sai de onde está nem se movimenta em qualquer sentido, não sobe nem desce – inerte, morta em si mesma, nada produz e a nada nos conduz.

Se o Pai não cessa de agir, e o Mestre também, que nos impede de experimentar fazer o mesmo? Assim como é o Criador, deve ser a criatura; à semelhança de Deus é o Espírito – as tarefas nunca chegam a um termo findável, sem o recomeço de outras, também infindáveis para todos nós indistintamente.

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Extraído da Revista Reformador. Junho/2001. p.17-18.

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